De palmos para palmas
Por HENRIQUE FRUET *
Desde que comecei a acompanhar o golfe, seja como jogador, há cerca de 10 anos, seja como jornalista, há uns 7 anos, sempre ouvi falar que o esporte precisava de um ídolo para finalmente deslanchar no país.
Tivemos um exemplo de como um ídolo poderia trazer dividendos ao golfe brasileiro com o surgimento de Angela Park e de suas duas primeiras temporadas no LPGA, quando ela ganhou cerca de US$ 2 milhões. Graças a Angela, o país ganhou duas edições do HSBC LPGA Brasil Cup, torneio que terá uma terceira edição em 2011. Mas Angela começou a jogar mal e, pior, parou de falar com a imprensa. Dezenas de jornalistas brasileiros tentaram, sem sucesso, entrevistá-la para repercutir a volta do golfe aos Jogos Olímpicos. Oras, para que serve um ídolo calado?
Quando Alexandre Rocha se classificou para disputar o PGA Tour na última segunda-feira dia 6, tive a certeza de ver surgir um novo ídolo. Era algo entalado na garganta do brasileiro há anos. Eu mesmo já havia escrito uma matéria sobre Rocha e outros brasileiros que tentavam entrar para o PGA Tour. Era 2005. Confira um trecho:
“Um Gustavo Kuerten dos tacos ou um Tiger Woods tupiniquim. É com isso que sonham os dirigentes do golfe brasileiro e seus praticantes. Apesar de o esporte estar em pleno crescimento no País, a opinião de todos é unânime: falta um Guga, uma Daiane dos Santos ou um Robert Scheidt no golfe para fazê-lo explodir, como já ocorreu em todo o mundo.”
Depois, eu falei de Rocha, relatando o último campeonato que ele disputou no Brasil:
“O paulistano Alexandre Rocha perdeu o primeiro lugar no American Express Brasil Classic por apenas um palmo. Essa foi a distância que sua bola passou do buraco no playoff contra o argentino Miguel Fernandez, vencedor do torneio. Um palmo também separou a bola do alvo e Rocha de um sonho em novembro de 2004. Se a bolinha brasileira tivesse caído no buraco 18 do St. Johns Golf & Country Club, na Flórida, ele teria passado para a última fase da seletiva por uma vaga no PGA Tour, principal circuito profissional do mundo, e conquistado o direito de disputar o Nationwide, torneio secundário de golfe dos EUA e celeiro de jogadores bem-sucedidos. “Foi um soco no estômago que me tirou o ar e me deixou sem reação nenhuma”, resumiu Rocha, que já se considera preparado para tentar outra vez no segundo semestre do ano”.
Rocha precisou esperar cinco longos anos para finalmente realizar o seu sonho. Ou para começar a realizá-lo.
Quando Rocha passar seu primeiro corte, já estaremos na torcida para que ganhe seu primeiro torneio. Quando conquistá-lo, já estaremos na torcida para que consiga vaga nos majors. Quando conseguir jogar algum torneio de Grand Slam, lá estará o povo brasileiro torcendo para que fique ao menos entre os 10 primeiros. Quando ficar no top 10 de um Masters, nossas rezas serão para o ganhe no ano seguinte, se preparando para, quem sabe, o primeiro Grand Slam brasileiro no golfe.
A decisão de Rocha de participar do 57º HSBC Aberto de Golfe do Brasil mostra que ele tem tudo para ser o ídolo que o golfe precisava. Na hora em que poderia abrir mão de tudo para ficar junto de sua família e comemorar o grande passo que deu na carreira, Rocha decidiu prestigiar o torneio profissional de maior importância de seu país.
É isso aí, Rochinha: ser ídolo significa ser responsável. E responsabilidade você já demonstrou ter de sobra, assim como carisma e amor ao País.
Agora é só esquecer os palmos que os separaram das glórias no passado e se preparar para as palmas que comemorarão os grandes feitos no futuro.
* O colunista edita a revista GOLFE+ e o www.blogolfe.com.br e dirige a Albatroz Comunicação, agência de notícias e de comunicação especializada em golfe.
O ponto de vista dos colunistas não expressa necessariamente a opinião da CBG