Confederação Brasileira de Golfe

Liberdade para suingar

08 de fevereiro de 2008

No livro Lições dos Grandes Golfistas, David Leadbetter demonstra que um bom swing tem a ver com estilo pessoal e não com métodos rígidos

Há incontáveis teorias sobre o swing de golfe. Alguns afirmam, por exemplo, que o swing deve ter boa rotação dos quadris e trabalho acentuado dos joelhos e pés para aumentar a potência e viabilizar a transferência de peso. Outros dizem que basta uma base sólida e bom giro de ombros para a parte inferior do corpo “acompanhar” a superior, resultando numa transferência natural de peso, e também gerando mais potência por conta do aumento de torque.
No jogo curto, uns dizem que é melhor segurar o taco um pouco mais abaixo, quase no fim do grip, para melhor controlar a força que se quer aplicar. Outros garantem que isso é bobagem. Seria função da amplitude do swing determinar a força aplicada na tacada, e não da redução artificial do tamanho da vara – o que, de resto, dizem os mais preciosistas, altera também o swingweight do taco, diminuindo a própria sensibilidade que se pretende aumentar.

O mito da perfeição

Essas e outras divergências estão em incontáveis artigos de revistas e sites especializados. E quem ler, digamos, o livro sobre jogo curto de Ernie Els (The Complete Short Game) e compará-lo com o clássico de Dave Pelz (Short Game Bible), encontrará indicações técnicas diferentes visando o mesmo resultado. E poderá ir até para uma terceira ou quarta variação sobre o mesmo tema se adquirir o How I Play Golf, de Tiger Woods, e o clássico On Golf, de Bobby Jones.
Mas entre tantos livros sobre o prosaico ato de balançar um taco, há um particularmente libertador para aqueles que penam nos ranges da vida em busca da maneira “perfeita” de suingar. É o interessantíssimo Lessons from the Golf Greats, escrito pelo instrutor David Leadbetter e publicado pela Harper Collins; ou Lecciones de los Grandes Maestros, na tradução espanhola publicada pela Tutor. Para explicitar as peculiaridades na construção e execução de cada swing, Leadbetter analisou detalhadamente os movimentos de 25 grandes jogadores; entre eles, Ballesteros, John Daly, Ernie Els, Mickelson, Montgomerie, Jack Nicklaus, Greg Norman e Payne Stewart.

Sem medo de experimentar

O livro traz a biografia do jogador, informando também sua altura, data de nascimento e quando tornou-se profissional. Depois, vem a seqüência fotográfica do swing, frontal e lateral. Após a análise, há uma seção com ilustrações e texto, apresentando dois exercícios específicos para desenvolver técnicas próprias àquele jogador. Essa estrutura se repete para todos os swings analisados. Desse modo, o mesmo livro se torna uma obra de referência básica sobre esses golfistas e também um curso intensivo e diversificado de full swing.
É uma obra baseada numa postura didática que respeita a diversidade e elogia a independência. Na introdução, Leadbetter aconselha: “Aprender a fazer um swing não consiste em seguir à risca um modelo supostamente perfeito. A partir do momento em que tenha lido esse livro e adquirido um certo conhecimento técnico, não tenha medo de experimentar coisas novas, mesmo correndo o risco de errar. Tudo isso faz parte da diversão que é aprender. Agindo assim, verá surgir duas ou três idéias diferentes que poderão ajudá-lo de modo concreto”.

O drive de Colin Montgomerie

Com esse conselho em mente, vejamos os movimentos de Colin Montgomerie analisados por Leadbetter. Na primeira foto da seqüência de swing do famoso escocês das melhores Ryder Cups, ele está posicionado para bater com seu driver. Porém, curiosamente, a bola está atrasada, bem longe da linha imaginária de seu calcanhar da perna dianteira. É um posicionamento típico para bater com um ferro médio. Leadbetter explica essa estranheza: “O swing de Colin se caracteriza por manter a parte superior de seu corpo muito parada, trabalhando os movimentos da parte inferior, por trás e adiante, a partir desse torso estabilizado. A posição da bola se ajusta a essa relação entre as duas partes. Se a bola estivesse mais adiante, a parte inferior de seu corpo teria que avançar demasiadamente para chegar na bola”.
Não é difícil imaginar um golfista comum de qualquer lugar do mundo, com os mesmos 1,85 m de altura e biotipo de Montgomerie, e também com a tendência de manter essa mesma relação de estabilidade/movimento, deixando a bola instintivamente mais para trás. Também é fácil imaginá-lo sendo interrompido por outros golfistas escandalizados com tamanha heresia: “Não, não faça isso, desse jeito você está posicionado para bater um ferro 6, e você está com um driver nas mãos!”

O grip retorcido de Paul Azinger

Outra análise particularmente interessante é a do swing do norte-americano Paul Azinger. Ele usa um grip muito forte, com suas mãos exageradamente viradas à direita, com os “vês” formados pelos seus dedos polegares e indicadores apontados para bem fora de seu ombro direito. Sua foto frontal com um ferro 5, mostra a bola posicionada numa linha normalmente comum para o uso de pitch wedge ou ferro 9. Esse recuo, explica Leadbetter, se deve ao fato de ele trabalhar muito com o corpo e quase nada com as mãos. E ao pender um pouco para trás no backswing, ele se adequa, na hora do impacto, ao recuo pouco usual da bola. Essas características fazem dele um batedor de bolas baixas, com um vôo mais penetrante e menos curvo.

Um aprendizado sem dogmas

Em quase todas as análises de Leadbetter, despontam aspectos importantes que contrariam as regras rígidas que perpetuam o mito do swing ideal. Assim, vemos saltar aos nossos olhos as peculiaridades de cada jogador: o braço esquerdo dobrado no takeaway de Hale Irwin; a mistura desenfreada de força e flexibilidade em John Daly; o swing perigosamente terminado em “c” de Payne Stewart; a face do taco estranhamente virada para o céu e paralela com o chão no topo do backswing de Nancy Lopes; a inclinação um tanto exagerada das costas de Olazábal; Lee Treviño mirando à esquerda mas produzindo uma tacada reta. Enfim, uma interminável seqüência de “erros” segundo os manuais de golfe e as aulas clássicas disponíveis em qualquer centro de treinamento.
Onde há respeito aos dogmas, não há evolução. Por isso, é senso comum entre grandes jogadores que não há um campeão sequer que não deva seu sucesso à coragem de fazer o swing do modo como se sente melhor e dentro de sua necessidade corporal e psíquica. Ou, noutras palavras, não existe a maneira “certa” ou “errada” de segurar e balançar o taco. Existem apenas swings que funcionam e swings que não funcionam.
Essa postura racional e realista de Leadbetter diante do aprendizado do swing contrasta com a visão daqueles que ensinam golfe como se estivessem revelando os segredos da Ordem Rosacruz ou da Maçonaria, levando o aluno a crer que está diante de algo tão obscuro quanto a alquimia medieval ou a pintura renascentista. Lessons from the Golf Greats é um antídoto contra mistificações.

Serviço
O livro David Leadbetters Lessons from Golf Greats pode ser encomendado na Livraria Cultura (www.livrariacultura.com.br). A edição em inglês saí por R$50,00; a versão espanhola salta para R$98,00.

O colunista é escritor, golfista e editor da revista Golf Life. Seu e-mail é frenette@albatrozeditorial.com.br 

A opinião dos colunistas não reflete necessariamente a  postura da CBG

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