Confederação Brasileira de Golfe

Marco Frenette – Medo, o senhor da alma

19 de setembro de 2007

Superação do medo e equilíbrio psicológico são as marcas distintas dos grandes campeões. Sem elas, resta apenas um jogador que se sabe talentoso voltando frustrado para casa

Qualquer método de preparação de um jogador – seja os editados pela PGA americana, por escolas inglesas ou sul-africanas, ou por qualquer profissional que vise a formação de um golfista completo – pressupõe o desenvolvimento sistemático de oito características bem definidas. Cinco delas se desenvolvem através dos exercícios corporais: força, coordenação, velocidade, flexibilidade e resistência física. Outras duas – conhecimento técnico e capacidade tática – são desenvolvidas através do pensamento racional e cognitivo aplicados ao campo e à mecânica do swing e às leis da física referentes ao taco em movimento.

Essas sete características, todas importantes, só surtem efeito duradouro quando completada pela oitava, que é o cimento espiritual de todas as outras: a resistência mental. Sem uma força psíquica que chegue intacta ao green do buraco 18, de pouco adianta as tacadas potentes, o porte físico e o conhecimento técnico e teórico acumulado durante anos. Essa condição última é o talhe do campeão. Sem fibra e equilibrio psicológico, há apenas um jogador que se sabe talentoso voltando frustado para casa.

O interessante é que essa verdade serve tanto para jogadores como Phil Mickelson e Colin Montgomerie, que já perderam tantos Majors por falta de firmeza mental, quanto para jogadores de fim de semana, os quais se enervam com a simples presença de três ou quatro pessoas obervando-os no tee de saída.

As coisas são assim porque o sentimento básico do ser humano – em todos os tempos e lugares – é o medo. O cidadão tem medo de assaltantes, de chuvas, de congestionamento, de ser traído, de perder o emprego, de envelhecer. Ao pisar no campo, todos esses medos desaparecem como que por mágica, pois o golfe liberta. Mas daí, e vejam que coisa engraçada, em vez de curtir a liberdade recém-adquirida, ele cria outra legião de bichos-papões, e passa a ter medo de dar slice, de dar shank, de dar papinha, de a bola ficar curta, ou de cair no lago, ou de passar o green, ou perder-se no meio das árvores – e, sobretudo, ele passa a morrer de medo de se expor ao ridículo. Desse modo, o golfe, esse jogo maravilhoso e apaixonante, termina por fornecer a prova maior da indigência e da perplexidade da condição humana: a nossa infinita capacidade de criar medos inacreditavelmente minúsculos e estapafúrdios. O medo é o senhor da alma, diz um ditado espanhol.

Essa covardia congênita da nossa espécie faz com que o golfista precise de psicólogos especializados, de gurus, de psicanalistas e de conselheiros que digam a eles, o tempo todo, que eles podem ganhar, que eles são bons, que eles são pessoas crescidas e capazes, que eles não devem chorar diante das adversidades e que devem confiar em seus instintos. O golfista se recusa a acreditar que o campo de golfe nada mais é que um espaço para brincar de perigo, e não para acreditar que há perigos reais. É o mundo compactado e dividido em 18 buracos – sem as desvantagens dos impostos e da violência urbana.

Dentre os tantos especialistas em tirar essa bola de minhocas da cabeça do golfista, Bob Rotella ocupa um lugar de destaque. Esse psicólogo norte-americano tem idéias eficientes: “A psicologia do golfe é clara e lógica. Minha abordagem mental é simplesmente baseada no bom senso. É uma psicologia da excelência, sem complicações desnecessárias”. Seu método está belamente descrito no livro Golf is not a game of perfect, o qual, felizmente, tem edição nacional lançada pela editora Campus, com o título O Golfe não é um jogo para perfeccionistas.

A beleza das idéias de Rotella está na sua convicção de que o ser humano tem potencialidades ilimitadas: “Um dos meus objetivos ao escrever este livro é contar às pessoas que amam o golfe a verdade a respeito do livre-arbítrio. Estou convencido de que é o poder da vontade que distingue os grandes golfistas daqueles que jamais atingem o seu potencial. Embora ensine psicologia, nunca consegui determinar onde termina a mente e onde começam o coração, a alma, a coragem, o espírito humano. Sei, porém, que é em algum lugar deste complexo de mente e espírito a que chamamos de livre-arbítrio que todos os grandes campeões encontram a força para sonhar com a vitória e honrar seus compromissos com a excelência”.

O livro de Rotella também poderia se chamar “O Golfe não é um jogo para medrosos”. Segundo ele, é preciso ter coragem para sonhar o que se deseja: “Os sonhos que me interessam são aqueles que motivam algumas pessoas afortunadas desde a hora em que acordam até a hora em que elas vão dormir. São feitos de paixão e tenacidade. Os sonhos que me interessam são o combustível emocional que ajuda as pessoas a assumir o controle de suas vidas e se tornar exatamente o que desejam ser. Quem tem grandes sonhos pode conseguir grandes coisas. Quem tem pequenos sonhos, ou alguém sem confiança para tentar transformar seus sonhos em realidade, está condenada a uma vida de frustração e mediocridade”. Depois de ler isto, o ideal seria correr até a livraria mais próxima.

O colunista é escritor, editor da revista Golf Life e sócio-diretor da Albatroz Editorial, empresa de comunicação especializada em golfe.

frenette@albatrozeditorial.com.br

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