Confederação Brasileira de Golfe

Resumo da grandeza

22 de janeiro de 2010

POR MARCO FRENETTE*

Muitas coletâneas se resumem a um aglomerado de textos e imagens que não representam a contento o tema sob o qual são agrupados. Isso porque, muitas vezes, o recurso da coletânea torna-se apenas um truque para a editora colocar mais um livro no mercado, sem ter de arcar com maiores custos de produção material e intelectual.

Porém, há grandes exceções, e uma delas é o excelente Golf Greatest Moments – An Illustrated History by the Game´s Finest Writers.

Publicado pela Harry N. Abrans Publishers e com edição geral de Robert Sidorsky – escritor de golfe de veículos como The New York Times e Links Magazine – , esse livro é um apaixonante e profundo mergulho em todos os aspectos que fazem do golfe um grande jogo. É uma viagem conduzida pelos melhores literatos apaixonados pelo esporte, e ilustrado com 170 imagens que vão desde fotos históricas e pinturas até cartoons e outdoors de viagens.

O que faz o golfe ser grande

Essa é a questão principal da cultura golfística: o que há nesse jogo para ter tantos níveis de sedução a ponto de transformá-lo num catalizador de filosofias e num estilo de vida duradouro? O primeiro capítulo do livro reúne artigos que intentam destrinchar os elementos desse bom vício. O texto de abertura é de John Updike, extraído de seu famoso livro Golf Dreams, um dos maiores elogios contemporâneos ao jogo. Updike é elegante e um tanto irreverente, e usa da cena inicial do clássico americano O Som e a Fúria, de William Faulkner, onde um idiota observa um jogo de golfe sem entender aqueles atos simples de bater numa bolinha e tirar e colocar uma bandeira num buraco. “Esse é o grande segredo.”, explica Updike, “O golfe é um jogo que apela para o idiota que há em todos nós, e também para a criança que nos habita. Qual criança que não entende e sente toda a sedução que há no mini-golf?”. É o poder desse jogo de nos transportar para esferas estranhas ao mundo adulto.

Já Sir Walter Simpson, autor de The Art of Golf, um livro bem especial da literatura de golfe do século 19, define o jogo como um dos mais contraditórios e consoladores, onde momentos de extrema alegria se confundem com momentos de baixa estima e desânimo: “Esse jogo é o melhor de todos para o mal jogador. Afinal, ele pode dar uma série de tacadas absolutamente lamentáveis, mas, logo em seguida, acerta um bom tiro, e está novamente nas alturas. Nenhum outro jogo permite que se caia tão baixo em rendimento e ainda permita a participação”.

Os primeiros gigantes

Outro capítulo muito interessante trata dos primeiros grandes nomes do golfe, pioneiros que fundamentaram as bases sólidas sobre as quais o golfe ainda se desenvolve como esporte mundial e de massa. O escritor Horace Hutchinson, em texto impecável, faz uma breve biografia de Allan Robertson (1815 – 1859). Ele era chamado de “O Imbatível” por nunca ter perdido uma partida valendo a dinheiro, e de “O Príncipe dos Golfistas”, por ter sido um dos primeiros golfistas da história a viver do jogo, abrindo caminho para a profissionalização da categoria.

Naturalmente, lá estão textos falando do inesquecível britânico Old Tom Morris (1821- 1908), que foi, aliás, estagiário de Robertson. Old Tom também foi um dos profissionais pioneiros, e estendia sua atuação desde torneios até a construção de bolas, tacos e campos. Sua biografia coube ao escritor David Owen, do The New Yorker e da Golf Digest. Já para falar do grande Harry Vardon, ninguém melhor que o maior escritor de golfe de todos os tempos, Bernard Darwin (1876-1961). Com seu estilo elegante e inconfundível, Darwin repassa os grandes momentos da vida do criador do grip overlapping.

Uma questão de coragem

Outro ponto alto desse livro é a incrível história de Francis Ouimet, o caddie que venceu o US Open de 1913. Francis Ouimet tinha 20 anos de idade e aspirava ao status de jogador de golfe. Ele morava ao lado do Country Club de Brookline, Massachusetts, ano e local do que viria a ser o mais famoso e importante US Open da história do golfe. Sua participação era para ser discreta, uma vez que iria enfrentar jogadores como Harry Vardon, uma lenda do esporte; e Ted Ray, o John Daily da época, com seus drives potentes e sua personalidade irreverente. Mas eis que o convidado desconhecido demonstrou insuspeitada maturidade emocional e técnica; e após quatro rodadas debaixo de sol e chuva, termina empatado em primeiro lugar justamente com os dois jogadores acostumados a ofuscar os adversários mais duros. No play off de 18 buracos, Ouimet vence. Ele chega às páginas dos jornais europeus e americanos na condição do primeiro amador a ganhar o US Open.

Essa bela e implausível história de um azarão batendo golfistas experimentados é o tema do texto do escritor Al Laney, um cronista esportivo muito talentoso, com passagens por jornais como o New York Herald Tribune. Uma curiosidade não relacionada a golfe, mas interessante: Laney foi contratado por James Joyce, o autor de Ulisses, para ler livros, uma vez que Joyce já estava praticamente cego. Porém, Laney fou logo demitido por não conseguir ler a contento os livros em italiano. Seu texto sobre a vitória de Ouimet é tocante e belo, pois é a descrição do impacto desse acontecimento a partir da perspectiva de um jovem, pois Laney tinha apenas 16 anos à época.

Mais valiosas que mil palavras

Reunir imagens para um livro não é tarefa fácil, pois há desde problemas de direito autoral até a imprescindível sensibilidade para escolher aquelas que representem a força e beleza do contexto abordado. Esse livro atingiu esse objetivo. Além de fotos e óleos de grandes jogadores como Byron Nelson, Bobby Jones, Ben Hogan e Harry Vardon, há uma agradável seleção de desenhos, peças publicitárias e cartoons.

A ilustração The Golfers Dream, extraída do livro humorístico Mr. Punchs Golf Stories, é uma engraçada brincadeira com o famoso “O Sono da Razão Gera Monstros”, de Goya. Só que em vez dos monstros, nessa paródia temos um golfista adormecido em sua poltrona, cercado pelas imagens de seu sonho, as quais incluem putts de um metro que não caem, bolas afundadas na areia e belas mulheres jogando. São todos os sofrimentos e prazeres do jogo reunidos num momento onírico.

Já a ilustração Golfski, reproduzida nessa matéria, é uma das obras-primas do excelente cartunista Frank Reinolds. Nela se vê toda a emoção que um jogo de golfe pode conter; e essa representação é feita com alegria e humor, qualidades que possibilitam aos seus portadores elevar o jogo a outros patamares.

Para ser uma boa pessoa

Claro que um livro sobre todos os aspectos do golfe não poderia deixar de falar da lenda viva Tiger Woods. A coletânea termina com alguns textos sobre esse mito. Um deles foi escrito por David Owen, um dos grandes estilistas em língua inglesa quando o assunto é esse jogo. Ele faz uma boa abordagem da formação do caráter e valores que movem Tiger, mas partindo da origem de tudo: seus pais. Ao desenhar um painel das convicções familiares que moldaram esse grande jogador, Owen vai mostrando que Tiger não é fruto do acaso, mas resultado de esforços e perseveranças que duraram uma vida. Mas foi um planejamento um pouco diferente do que as pessoas imaginam. “Nós nunca pensamos em preparar Tiger para ser um campeão de golfe. Nós o preparamos para ser uma boa pessoa. Porém, como o golfe é apenas um microcosmo da vida, tudo se encaixou”, diz o pai Earl Woods. Numa trajetória de vida familiar pautada pelo desenvolvimento da paciência, foco e firmeza de propósitos nasceu Tiger; talvez o mais acabado espécime fruto de todos os mistérios que envolvem esse jogo.

Para Saber Mais

Golf Greatest Moments – An Illustrated History by the Game´s Finest Writers.
Publicado pela Harry N. Abrans Publishers e com edição geral de Robert Sidorsky. Textos de Bernard Darwin, Dan Jenkins, Herbert Warren Wind e O. B. Keller, entre outros.

* Marco Frenette é escritor, golfista e editor da revista Golf Life.

O ponto de vista dos colunistas não expressa necessariamente a opinião da CBG.
 

 

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