Confederação Brasileira de Golfe

Sobre triplos e quádruplos

17 de outubro de 2011

* Por Henrique Fruet

Keegan Bradley, um americano de 25 anos nascido em Vermont, parecia estar no céu. Em seu ano de estreia no PGA Tour, disputava o seu primeiro major e tinha chances reais de vencer. Acabara de fazer um eagle no buraco 12 da volta final do PGA Championship e chegara à vice-liderança do torneio, que distribui US$ 1,4 milhão ao campeão e insere seu nome na história do esporte.

Bradley logo descobriu que no golfe o céu e o inferno distam poucas jardas um do outro. No buraco 15 do Atlanta Athletic Club, na Georgia, Bradley fez um triplo bogey após mandar a bola para a água.

Uma semana antes, Bradley tivera chances de vencer o Bridgestone Invitational, torneio da série mundial, mas quatro bogeys e um double bogey nos últimos nove buracos o fizeram cair 11 posições e terminar em 15º.

Esse seria mesmo um inferno para qualquer golfista: uma semana depois de um desastre no final de um torneio com chances de vitória, o camarada me faz um triplo bogey no finzinho do jogo e aumenta de uma para quatro tacadas a diferença em relação ao líder, o americano Jason Dufner.

Foi aí que a força mental entrou em ação para mostrar que o inferno só existe dentro da nossa cabeça. Na semana anterior, após seu desastre no Bridgestone, Bradley procurou o psicólogo esportivo Bob Rotella, especializado em golfe, e seu técnico, Jim McLean. Também pegou conselhos com o americano Phil Mickelson e com o colombiano Camilo Villegas.

Graças aos conselhos que ouviu, Bradley se concentrou apenas nos três buracos que tinha à frente. No 16 e no 17, fez birdies decisivos que o levaram ao playoff de três buracos, no qual derrotou Dufner. Antes do início do desempate, todo mundo que assistiu ao jogo pela TV já poderia adivinhar o resultado pelo ânimo dos competidores – Bradley estava claramente confiante e animado, contra um Dufner arrasado por bogeys consecutivos nos buracos 15, 16 e 17 que lhe tiraram o título. Não deu outra.

Um dos conselhos fundamentais seguidos por Bradley veio de Mickelson: esquecer dos resultados e não pensar sobre o que aquele birdie ou eagle poderia significar – e deixar para trás também, principalmente, coisas como triplos bogeys. “Phil foi ótimo para mim. Ele apenas disse para eu ser mais paciente. E a coisa principal que tentei fazer esta semana foi reagir com menor intensidade a tudo, fosse algo bom ou ruim”, disse Bradley, que só não conseguiu se segurar quando embocou o birdie no buraco 17.

Swing, ritmo e preparo físico são atributos comuns a todos os jogadores que estão no Tour. O que no final das contas pode determinar um campeão é como ele lida com a guerra interna travada em sua mente, sempre disposta a pregar armadilhas.

Tiger Woods, que desabou este ano no ranking mundial para baixo da 30ª posição, que o diga. Consertar um joelho machucado é bem mais fácil do que consertar uma mente conturbada, pode apostar.

O perdão e o imponderável – Uma das coisas que levei mais tempo para aprender no golfe – e uma das que mais me auxiliou no esporte – foi a não esquentar a cabeça e a me perdoar, conforme escrevi recentemente no Blogolfe. Isso significa não ficar nervoso quando cometo alguns erros primários. Mais do que isso: seguir adiante, pensando sempre na próxima tacada. Parece estar funcionando: meu handicap index foi de 22,6 no final do ano para 16,9 este mês, com viés de baixa (espero!!).

No campo de golfe, estamos sujeitos à sorte: a bola pode se desviar numa pedrinha colocada na trajetória em direção ao buraco, assim como pode bater numa árvore e desistir de sair do campo para voltar bem para o meio da raia. Encontramos no campo de golfe o imponderável com o qual muitas vezes não estamos acostumados a lidar no dia a dia.

O perdão e o imponderável (além, é claro, de muito treino, técnica apurada e ritmo) ajudaram o paulista Rafael Becker a vencer no final de julho o IV Gillette Golf Cup – 81º Campeonato Amador de Golfe do Brasil e se tornar bicampeão brasileiro.

Não pude acompanhar sua volta final inteira. Mas sei que ele fez um 7 no buraco 8, um par 3. Quantas vezes eu, com um handicap ainda mais alto, me desesperei por fazer um triplo, ainda mais num par 3? Quantas vezes me achei completamente fora de jogo depois de um quádruplo, apesar de ter bastante handicap para gastar, principalmente nessas situações? Becker, entretanto, fez um esforço mental gigantesco e seguiu no jogo.

O perdão a si mesmo o fez voltar para o jogo e a tirar, no último buraco, duas tacadas que o separavam do líder, o local player Eduardo Vasconcellos, para ir para o playoff com ele e com Daniel Stapff.

No primeiro buraco do playoff, o buraco 1, entrou o imponderável: o tiro inicial de Becker abriu e foi em direção à rede do driving range. Mas a bola bateu numa árvore e voltou para o campo. Ele bateu um lindo segundo tiro por cima das árvores para deixar a bola praticamente dada e seguir para o buraco 15, o segundo do playoff, para daí vencer Vasconcellos (Stapff já havia ficado para trás no buraco anterior) e se tornar campeão brasileiro.

Pois não é que menos de uma semana depois da vitória de Becker mais um camarada resolve vencer um torneio de peso com um quádruplo bogey num par 3 na volta final, e também após um playoff???
Dessa vez, o autor da façanha foi o uruguaio Juan Alvarez, que venceu a categoria principal da Faldo Series South America Championship, disputada no Damha Golf Club, apesar de ter feito um 7 no buraco 6, o temido par 3 com green ilha do Damha (ele mandou a bola para fora e depois para a água). Mesmo com o quádruplo, o bravo uruguaio terminou a volta com 72 tacadas, par do campo, foi para o playoff contra o paulista Giordano Junqueira e venceu após embocar um putt para eagle de 20 metros.

Longe de mim querer bancar o psicólogo de golfe. A parte que me toca – a de fazer quádruplos bogeys e outras coisas inomináveis – já faço bem o suficiente, dando minha contribuição para a discussão sobre o assunto.

Mesmo que não faça birdies e eagles que me levem a vitórias no Brasil ou no PGA Tour, pelo menos saio de campo sempre com a mente quieta, a coluna ereta e o coração tranquilo.

* Henrique Fruet dirige a Albatroz Comunicação, assessoria de imprensa e agência de conteúdo especializada em golfe, edita a revista Golfe Mais (www.golfemais.com.br) e o www.blogolfe.com.br e escreve sobre o esporte para a revista Wish Report.

O ponto de vista dos colunistas não expressa necessariamente a opinião da CBG

 

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