Confederação Brasileira de Golfe

Como ser o “caddie”​ do meu filho me ensinou sobre liderança

03 de fevereiro de 2022

Texto de Rodrigo Vianna, executivo, pai e caddie

Rodrigo e Fernando Vianna

Não é de hoje que eu ouço por aí que Golfe é um esporte chato, ou até mesmo que não é ESPORTE. Eu, que sempre assisti pela televisão as tacadas ao redor do mundo em inúmeros campeonatos e partidas, deixava de me aventurar nos campos, pois acreditava que golfe e esporte de alta performance não eram duas coisas compatíveis.

Em março de 2020 – logo antes da pandemia começar, eu decidi dar o 1º passo e fui a um campo fazer uma aula. De lá para cá são quase dois anos de muito treino, jogos e, por incrível que possa parecer, suor. Cheguei à conclusão que as recomendações que eu recebia de “não comece, pois vicia” eram verdadeiras. Golfe é um esporte incrível: mentalmente nos coloca em um constante estado de foco, fisicamente nos requer disciplina, respeito, cordialidade e um processo de repetição que beira o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Para alguém agitado como eu tem sido um baita desafio.

Mas não vim aqui para falar de mim, mas sim do meu filho Fernando. Nasceu ligado ao esporte, bola e velocidade. Desde pequeno gostava de ir ao Mini Golf sempre que tínhamos essa possibilidade. Meu grande companheiro me pediu um dia para ir ao Driving Range para ver como eu jogava golfe. Usamos alguns tacos pequenos emprestados da Federação Paulista e de repente lá estava ele me acompanhando em todos os treinos.

Comecei a ver um movimento grande no Brasil de crianças iniciando no golfe e decidi dar um pacote de dez aulas para ele aprender. Após quase um ano e meio desde o seu 1º dia, muitas medalhas e troféus depois, frustrações e choros, meu filho vai aos EUA em julho disputar o Mundial da categoria de 6 a 8 anos. Ou seja, muito mais do que apenas introduzir um novo esporte na vida dele, sua dedicação e comprometimento trouxeram um resultado muito além do esperado. E do lado de cá? Fica a sensação de missão cumprida.

Dulce, Rodrigo e Fernando Vianna

A parte mais interessante dessa história não é o jogo em si, mas os aprendizados que a oportunidade em ser seu CADDIE me trouxe. Caddie é o responsável por carregar os tacos do golfista nos torneios. Normalmente é um conselheiro, que conhece o jogo e a estratégia do campo para ajudar o jogador a tomar certas decisões ao longo da partida.

Com o passar do tempo, comecei a perceber as semelhanças entre a função do Caddie e o desafio em liderar pessoas. Como meu filho tem apenas sete anos, meu papel é muito maior do que carregar os tacos ou escolher um para determinada jogada. Lidar com as emoções de uma criança cheia de sonhos e vontade certamente é o maior aprendizado dessa nossa jornada.

 Abaixo vou listar 3 lições que aprendi sendo Caddie do meu filho nos torneios de golfe:

 1 – Pensamento Estratégico

O golfe é um esporte que te permite “pensar”, diferente de esportes de alta intensidade que você precisa tomar decisões rápidas. A razão disso é que entre uma tacada e outra temos um tempo para caminhar, pensar e analisar os próximos passos. Normalmente as crianças batem a tacada e já querem o outro taco, ir correndo até a bola e já chegar batendo. Aprendi que a “pressa é inimiga da perfeição”, e neste tempo entre uma bola e outra você ajuda seu filho a esvaziar a cabeça, esquecer a última tacada e conversar. Quando se chega na bola, o ideal é olhar o local, a distância necessária para a próxima tacada e os obstáculos à frente. Feito todo esse processo, tomamos juntos a melhor decisão.

Uau, quantas variáveis! Mas isso mostra que no mundo corporativo as decisões devem ser tomadas analisando o cenário por completo, e não de forma abrupta e superficial.

 2 – Razão x Emoção

Esse é o maior desafio dos pais ou Caddies: separar a emoção da razão. Digo isso com propriedade, até pelo espírito competitivo que sempre norteou a minha vida e que com certeza o Fernando tem no DNA também. Recentemente tivemos um episódio marcante nesse sentido. Ao errar as duas primeiras tacadas do jogo, naquele momento quem estava com mais raiva era eu. Tive vontade de gritar, de quebrar todos os tacos. Mas olhei para ele e no mesmo segundo respirei fundo, ajoelhei no chão e falei: pode chorar, estou aqui e vai ficar tudo bem. Enquanto estávamos abraçados, falei o quanto tinha orgulho e o amava. Voltamos, analisamos a próxima tacada e fluiu. Até o fim da partida ele jogou o melhor golfe dele e estava feliz.

 Os sentimentos sempre irão se misturar, mas é preciso saber a hora de acolher e ouvir, sem perder a razão. É no equilíbrio das pequenas coisas que as melhores decisões são tomadas.

 3 – Foco

O jogo dos Kids em 9 buracos dura em torno de 3 horas. Sol, 5km em média caminhando e sem poder usar o Cart, ou seja, a pé. Além disso, coloque a pressão dos outros jogadores, dos pais, das pessoas assistindo e o medo de decepcionar a todos e a si próprio.

Nesse período, o maior desafio é manter o foco dos pequenos, e como isso é difícil. As crianças se conhecem, treinam e jogam sempre juntas. Elas já entendem o lado competitivo do esporte, mas no fim não é raro ver no campo a turma correndo, brincando e “desfocando” do jogo. Nosso papel é tentar equilibrar isso, pois 100% de foco em quase 3 horas de jogo sem poder encontrar uma válvula de escape é muito complicado. Não é raro ver pais e filhos discutindo em campo por conta da perda de foco no meio do torneio, uma cena triste.

 Recentemente me inscrevi em um Curso de Caddie for Kids do US Kids Golf. Estou ansioso para ver o que eles recomendam e indicam para melhorar nosso papel ao lado dos filhos e, claro, já preparei meu calmante rs.

Perder o foco muitas vezes dentro do nosso ambiente de trabalho é muito comum, ainda mais quando estávamos 100% no escritório. No Brasil temos muito a cultura das “paradas” ao longo do dia, do cafezinho e isso é saudável demais. Porém, voltou para a mesa temos de saber desconectar de tudo o que é externo para melhorar a entrega e evitar erros comuns. Ainda bem que meu filho não fica do meu lado o dia todo, pois quem levaria bronca era eu. rs

O golfe por si só é um esporte que ensina muita coisa, não só para quem joga, mas para todos que se envolvem, torcem e acompanham os jogadores. Mais do que o jogo e o aprendizado, o golfe me proporciona estar um tempo rico e precioso ao lado do meu filho, criando laços fortes e histórias de superação que carregamos conosco a vida toda.

Nesses tempos sombrios que passamos, de uma geração que levará no futuro os reflexos de passar por este momento ainda muito jovens, estar perto da sua família praticando atividade física não tem preço.

Caso alguém queira entender mais sobre esse esporte e a relação de Pais e Filhos, assistam “The Short Game” no Netflix, mostra muito desses pequenos jogando o Mundial e também a relação deles com seus “Caddies”.

Fecho este texto com uma frase do maior golfista da história, Tiger Woods, sobre o que ele mesmo diz ao seu filho Charlie Woods: “Filho, não importa o quão bravo você fique. Sua cabeça pode explodir, desde que você esteja 100% comprometido com a próxima tacada. Essa próxima tacada deve ser a mais importante da sua vida. Deveria ser mais importante do que respirar.”

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